sábado, 27 de junho de 2009

A ressurreição de Dionísio!

Eu tenho um violão com nome de divindade grega! Uma divindade que tá mais pra simulacro que pra cópia ou idéia... A idéia do nome Dionísio não é nitzscheana, na verdade me sugeriram Baco, quando eu queria um nome... Daí eu achei romano demais, e depois veio Nietzsche (que gosta mais dos romanos do que eu, garanto)... Juntou tudo e o violão virou o Didi... Dionísio, máquina de guerra com a qual volto a me acoplar...

Janeiro teve fórum social mundial em Belém, num período em que chove toda tarde... Fui com pé inchado, achei escorpião na barraca, hasteei uma bandeira invisível na marcha de abertura do fórum, me apaixonei por um coletivo de pessoas, comprei uma bicicleta quimerística que tive que deixar pra trás, mas que foi minha muleta, amei e odiei muitas coisas, não conheci quase nada de Belém, fiz cartazes e eventos, amei e briguei demais, e perdi meu violão...

No calor de uma capa, dentro de uma barraca, as cordas puxaram e arrancaram uma parte do violão... Voltei pra casa sem a bicicleta que comprei e sem o violão que levei (ou com ele quebrado, melhor dizendo), e com o pé menos inchado, mas ainda inchado...

De lá pra cá, nunca mais fui à praia, nunca mais toquei violão, nunca mais passeei de bicicleta e nunca mais caminhei por aí... Nunca mais apreciei as paisagens e pessoas das paisagens, e nunca mais pude ser apreciado por elas (paisagens e pessoas)... De janeiro a junho vivi uma estação das sombras, um tempo tenebroso, apesar de ter o que tirar de bom daí, mas um tempo tenebroso...

Mas ganhei de presente a restauração do violão, e apesar de estar há tempos cheio de expectativas de que isso me faria bem, não imaginava que fosse ser tão crucial pra voltar a viver... A vida tá com um outro tempero, tenho mais vontade de acordar de manhã cedo... Eu nem tinha percebido que estava tão mal, tão morto... Agora que melhorei, é que senti a diferença e percebi que estava podre... Até me bateu vontade de andar mais... E quando ando dá vontade de tocar, quando toco dá vontade de andar... Acho que acertei no nome de meu violão...

Agora falta a bicicleta! Pode não ser Jurema, minha bicicleta de Belém, mas a vida em duas rodas é tudo que eu sempre quis, e não tô falando das rodas de uma cadeira, como a de Hebert, nem de uma moto, como a de Vital... Eu queria um nome pra bicicleta que eu comprei em Belém, e tentando atravessar a multidão diante da UFRA pra entrar no acampamento, passavam uns travestís, e uns pivetinhos sacanas e bem humorado que vendiam água mineral zoavam e zoavam, daí um gritou "VAI JUREMA!"... E eu falei "É ISSO!"... Jurema é a bicicleta travesti... Não sei se terei outra Jurema, mas quero outra bicicleta... Mas agora saberei esperar com mais calma... De janeiro até aqui a espera era sem violão, então foi uma espera cheia de ódio...

Mas a vida, segundo nietzsche, é guerra entre os dois pontos que tensionam a corda... A vida existe enquanto a corda que vibra faz um som com viço... Quer saber o que é a morte? Vai tocando uma corda de violão e afrouxando enquanto toca, e ouve o que acontece com o som... Quando não tiver mais som, é porque não tem mais tensão... O nome disso é paz... O nome da paz é morte...

E a ressurreição de meu violão Didi não é sinônimo de paz... eu tento descrever como um alívio, mas na verdade é o contrário... é mais tensão... As cordas dele mais tensas fazem algo ficar mais tenso em mim... Daí eu tô me reafinando, no mesmo tom que ele... E agora que estamos juntos, voltaremos a fazer punk rock dedilhado! As postagens por aqui serão mais freqüentes, porque elas dependem de eu estar vivo, e junto com Didi, eu também ressussitei...

Não tô falando de flores não, tô falando de guerra mesmo... Eu estava em paz, apesar de meu pé ter desinchado de janeiro pra cá... Agora estou de novo em guerra, e é como ter de novo um motivo pra lutar... Que é sinônimo de ter um motivo pra fazer canção...

A vida é musical!

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